A foto acima foi tirada há uma semana. A sua resolução não me obstaculiza nada. Mas a imagem, de modo particular, me revela inúmeros e belíssimos elementos. O sacerdote celebrando a Santa Missa é um idoso que celebra a Eucaristia em sua casa, pois, além das circunstâncias da pandemia, já não consegue mais se locomover como há algum tempo o fazia. Suas condições de saúde são poucas, mas o mar de amor de seu coração é como um eterno nascimento sob os braços do Eterno.
Cheguei em sua casa e me deparei com um ambiente simples, sem nenhum exagero. Cadeiras montadas conforme medidas sanitárias de distanciamento; cerca de 20 pessoas, ou menos. Reunidos, celebravam o banquete da Vida, que, num passo tão próximo e de maneira tão singela, revela a proximidade do povo com a comunhão dos santos. Aquele ambiente, por menor que fosse, foi capaz de me levar à experiência de recomeços em Deus. Diante das tantas incertezas e indelicadezas de um coração que não se decide pelo Outro, fui capaz de experimentar o olhar acolhedor e terno de Deus. Sua ternura e grandeza fizeram-se um oceano em meio às minhas pobrezas.
Por um bom tempo, refleti suas palavras e o rito, também. Me admira que um homem tão debilitado fisicamente lance um olhar tão apaixonante sobre a vida com Deus. Livre, encorajado, aguerrido, simples. Resumidamente, aventurado no Amor. Aliás, ele foi o mesmo que me concedeu a graça de viver o sacramento da confissão pela primeira vez. Já ali, naquele tempo, era entusiasmado e visivelmente dependente de Deus.
Ainda que sem forças para longas caminhadas nos horizontes urbanos, encontra o impulso necessário para caminhar sob as estradas do coração, certo de que é conduzido pela experiência de Deus, capaz de transformar e restituir vida. O zelo pela Eucaristia é notadamente claro. Seu amor e sua reverência são apaixonantes!
Os objetos litúrgicos sob o altar. Aos lados, uma imagem de Nossa Senhora e uma outra sua de quando ainda era sacerdote mais jovem. A piedade popular marca o cenário. Com os olhos fixos no Crucificado, a assembleia inteira reúne-se para cantar as misericórdias do Senhor. Confesso, há tempos não via alguém tão apaixonado quanto este homem. Sem precisar tornar nada exposto, diz, com sua vida, que vive feliz. Já tendo chegado a tantos anos de vida, é capaz de anunciar ao mundo que tão mais digno e completo vive o homem quando decide aventurar-se no caminho do Amor e embelezar-se dos mistérios de Cristo.
Transformada pela força da Eucaristia, vi a centelha do amor de Deus expressa no coração e na vida daquele sacerdote. Na mesma semana, celebrei a festa de Santa Teresa de Lisieux e vi repercutir o legado de Carlo Acutis para o mundo. Uma personalidade marcada há mais de um século, outra marcada há pouco menos de 15 anos. Ambas revelam ao mundo o sentido de ser um mendigo de Deus e um eterno dependente de sua misericórdia. Ambas revelam ao mundo que o coração que abraça as coisas que não passam não permanece parado no corredor da história e nem do tempo em que vive, mas lança-se na maré do Amor e é capaz de testemunhar ao mundo tão feliz experiência. Que grandeza de festa! Tantas experiências em tão pouco tempo!
Quanta diferença faz para o coração do homem que compreende a capacidade de ser feliz em sua raiz mais real, verdadeira e ontológica possível. Quanta diferença faz para o coração do homem quando ele contempla a ousadia que os santos foram capazes de anunciar. Quanta diferença faz para o coração do homem que é capaz de compreender que o remédio para a vida fecunda e livre é a santidade.
A paz das potências que é capaz de silenciar o coração num movimento de amor: a potência da totalidade de Deus e o nada do seu povo. Um amor tremendamente eloquente: Deus e o coração da humanidade...
E por um momento, fiz a experiência de questionar-me sobre as centelhas do meu amor também. São José, homem tão monstruosamente aventurado, desistiu de medir o seu amor porque simplesmente viveu amando. Por sinal, me escolheu de modo muito providencial este ano. Olhando para sua imagem, posicionada sob um simples altar montado em minha casa, voltei à pergunta que devo fazer diariamente: quanto tenho medido o meu amor? Aliás, tenho medido? Ainda não compreendi que não se vive destinando meros bocados para algumas dimensões do amor de Deus e outro mero bocado para o seu coração? Em larga escala, em média, em pequena, quanto tenho continuado a olhar para o Crucificado? Quanto tenho aprendido a viver como fruto da Ressurreição?
A simplicidade é mesmo um descortinar da beleza do Eterno. Deus é simples. O desejo de seu coração por cada um dos seus é simples e é, em si, descortinado. Não esconde segredos e não mascara infidelidades. É genuinamente novo todos os dias, belissimamente esperançoso e puramente concreto.
Cheguei à Santa Missa naquele dia e fui surpreendida pela ternura de Deus envolvida naquele lugar e pela experiência de Céu revelada na vida da Igreja. Vi no coração deste homem uma vida livre, marcada por um êxodo diário em direção à vida com o Senhor, para sempre. Que existência feliz deve ser esta...
Por Tatiane Medeiros
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