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Liberdade para perder o medo



Fomos crianças um dia e já corremos aos pés dos nossos pais diante de alguma situação de medo. Sentimos medo de perdê-los e de nos enxergarmos sem a proteção, o afago, o cuidado, companheirismo e a cumplicidade deles. Sentimos medo e corríamos aos seus pés quando tínhamos um pesadelo. Já sentimos medo quando tivemos de trocar de escola sem saber o que viria pela frente. O que era novo para nós, por vezes nos assustava e não conseguíamos lidar tão bem. Crescemos e descobrimos que o medo não era condicionante à infância... sentimos medo quando avançamos uma fase da vida e nos deparamos com uma realidade diferente. Medo de atravessar a faixa de pedestre e sermos atingidos; medo de contrair uma doença; medo de perdermos... Sentimos inúmeros medos, mesmo não sendo mais crianças... e sentimos, pois o medo é inerente à vida humana.


Basta experimentarmos voltar a nossa consciência a uma pergunta interior: é possível traçar um caminho e torná-lo perfeitamente simples de ser cumprido, sem que nem imaginemos o futuro adiante? É possível vivermos sem a condição do incerto que nos cerca?


O tempo que vivemos é profundamente propício para desníveis de medo e insegurança. Um vírus assolou a humanidade, e desde então, nascimentos foram completamente mudados, famílias viveram históricos momentos, situações nos colocaram em constantes indagações sobre o sentido da vida e cumprimento da missão humana. Situações indescritíveis de perdas, drásticas mudanças, caminho em direção ao incerto.


Aqui nós chegamos num ponto crucial: caminhar rumo ao incerto. Entretanto, para o cristão, o medo, apesar de plasmado na vida humana, pode tornar-se um peso que mais atrapalha e desestabiliza, do que um impulso. Melhor dizendo... pode tornar-se um desamor e uma limitação no caminho, do que uma projeção que nos faz seguir adiante.


Vejamos a mensagem do Papa Francisco por ocasião da necessidade dos cristãos numa determinada homilia acerca deste tema, em 2015: “Quem tem medo não faz nada, não sabe o que fazer; se concentra em si mesmo para não lhe acontecer nada de mau. O medo leva a um egocentrismo que paralisa. O cristão medroso é aquele que não entendeu a mensagem de Jesus. O medo não é cristão; é um comportamento de quem tem a alma aprisionada, presa, sem liberdade de olhar para frente, de criar e fazer o bem”.


O cristão perde o medo, ou ao menos lida melhor em situações de, quando descobre o tesouro da providência divina. O cristão que vive como um anawin, como um pobre de Deus, já descobriu que de nada vale o existir se não tivermos a certeza de lançamento novo e configurado ao Mestre. Assim, é possível identificarmos um coração livre. Não livre para deixar de sonhar ou de não viver o medo, mas livre para acolher o medo e oportunizar o espaço para o encontro de Deus. É o que nos falta... nos falta coragem suficiente para amar o medo e deixá-lo ser a manifestação da liberdade humana encontrada: aos pés do Senhor, despojamos e ofertamos tudo, certos de que Ele a nos conduzir, estamos unidos no sentido reluzente.


O que nos deixa aturdidos quando sentimos medo é precisamente a consciência de não conseguirmos mudar o curso das águas. O homem não é Deus, não tem o poder da criação. As naturezas se separam, e aqui existe unanimidade louvável. Assim, lembramos o que é Belo de verdade e o que não passa. Lembramos em quem devemos nos espelhar e qual rumo devemos seguir. Sabemos em quem devemos manter firme o nosso coração.

O medo de perder e o medo de amar numa mesma balança. O medo de seguir adiante, para o cristão, está entrelaçado ao medo de amar. Se não é por amor e nele, qual o sentido da entrega? Onde estamos solidificando as nossas bases?


A esperança abre portas para nós. Ou melhor, o medo abre as portas da esperança. Há sempre mistérios insondáveis sobre o vigor da esperança que a alma humana, por si só, não consegue desvendar. São os tesouros da vida celeste que a nós se manifestam naquela que é a porta do novo olhar, do novo horizonte, do novo dia... a esperança.


As centelhas da eternidade crescem... viver arriscando-se por uma causa – Jesus, precisamente – é sinal de vida encontrada. Viver acorrentado às amarras do medo nos priva de uma gama de situações fecundas: nos priva da admissão certeira, que é admitirmos ao nosso coração que ele é conduzido por Alguém, e esta Pessoa não nos assegura subliminares garantias, mas somente a assertiva e plena, o interior abandonado aos Seus pés.


A consciência sobre o medo também passa pela descentralização da figura humana. Aquele que é capaz de admitir a si mesmo que precisa de um Outro para guiá-lo, entendeu que já não se trata de desejar satisfazer as próprias necessidades, pois sabe que não é mais sobre si. Sua vida não lhe custa um monólogo, mas um diálogo que marca e aprofunda, um diálogo que salva e pacifica. Um diálogo da alma com sua linha mais sublime!


Antes, coragem! Coragem para amar e para perder o medo de amar. Não basta conhecer e desejar controlar o futuro incerto... este não é o futuro do homem, apesar de ser um grande anseio. A Deus, basta que tome sua centralidade e sua destra condutora. Aí, então, nossa vida se refaz. O que antes nos paralisava, agora, como nunca, nos impulsiona. É o Espírito que deve estar à frente!


Não somos nós quem decidimos o futuro incerto ou estamos no controle de tudo. Mas, por natureza humana, temos a liberdade necessária à decisão de quem há de tomar os rumos da nossa vida. Imaginemos e lembremos o quão mesquinha é a vida que se lembra de si mesmo, antes de lembrar-se de Deus.


Somente à luz da oração conseguiremos entender e viver os mistérios que a eternidade se nos apresenta. Antes, mistérios, pois as lógicas e dimensões humanas não conseguem resumir em linhas o que a alma traduz.


Edith Stein, a quem tanto admiro e por quem nutro um precioso apreço, escreveu:


Se temos que caminhar à terra estrangeira, Ou buscar pousada de casa em casa, Vá adiante como guia fiel, Tu, companheiro de caminho da Virgem Puríssima, Tu, pai fielmente preocupado com o Filho de Deus. Belém e Nazaré, inclusive Egito, Serão nosso lar, se tu permaneces conosco. Onde tu estás, está a bênção do céu. Como meninos, seguimos teus passos; Cheios de confiança, nos colocamos em tuas mãos: Sê tu nosso lar: – São José, cuida-nos!”


Que nosso coração seja transformado diariamente a ponto de ser suficientemente capaz de enxergar-se necessitado do Outro. No calor, descanso. Na aflição, encontro. No calor, encontro. Na esperança, o Céu. E no fulgor da coragem, o Desejo.


Contemos com a intercessão fiel da Mãe da Providência por onde quer que avancemos ou em quais situações tivermos de enfrentar. Peçamos coragem para vivê-las, e antes de tudo, coragem para amar e ser livre de verdade.


Por Tatiane Medeiros

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