Somos constantemente marcados pela cultura massiva e sempre tão influente do relativismo. Com o passar do tempo, identificamos sabores novos de viver que na verdade desembocam numa escravidão própria sem fim... É a presença do relativismo que abre portas para tantas contrariedades que a humanidade enfrenta, e como num jogo de palavras e ideias, especialmente aquelas raízes dos pensamentos filosóficos que asseguram que o homem é a sua própria medida e também a medida de tudo o que está ao seu redor.
Considerando tal verdade, passa a admitir a presença dos ismos - embora não faça ideia do quão perigosos são - em sua vida. São muitos fenômenos, por assim dizer, que envolvem a relação do homem na chamada pós-modernidade. Temos as raízes do hedonismo, uma busca incessante de prazer por prazer que abre portas para o imediatismo e o efêmero, assim como o consumismo, o materialismo, individualismo e tantos outros derivados que vão corroendo o nosso coração como a ferrugem corrói superfícies, atuando rapidamente sem que seja quase impossível reverter a situação.
Influenciados pelos prazeres e pelos bons gostos de viver, aos poucos vamos perdendo a forma, já não sabemos o necessário sobre a nossa própria identidade. Nos acostumamos com muito pouco, amesquinhamos o nosso próprio caminho de vida, e aos poucos, somos como que coisificados.
Sim, é verdade que muitos de nós, assim como eu e você, vivemos constantes situações de inconstância que talvez expliquem algumas situações ordinárias que vivemos. Mas como conciliar uma vida de decisão pela busca e decisão na busca se somos bombardeados a todo instante?
É um grande risco sermos vítimas de tantos males, sim. As consequências são desastrosas! Enquanto não admitirmos a nós mesmos, honesta e abertamente, que existe uma capacidade que nos transcende e que somente ela nos capacita a enxergar a felicidade plena, muitos dos nossos esforços serão jogados fora. Como pode o homem esquecer-se do Absoluto por um só instante? Sim, ele está perdido nesse meio-tempo. Não tem em quem buscar referências, e se o tem, é em si próprio. O constante olhar voltado exclusivamente a nós mesmos, centrado nas próprias paixões, opiniões e perspectivas, é o que não vemos, mas pouco a pouco nos rouba a essência. Sim!
Tais razões explicam bem a centralidade cristológica para a vida humana: um constante sair de si para enxergar certezas no Outro. É quando o homem deixa de admitir, em realidades próprias, que ele não é sua própria referência. É quando o homem enxerga em Deus a certeza da vida infinita a qual tem tanta sede. Marcado e bombardeado por tantos tiros, encontra repouso e descanso na figura sublime do Eterno. É o perfeito encontro marcado pela esperança, o amor e a gratuidade que a Vida nos explica... É a beleza do constante, da segurança sem fim, a âncora que nos solidifica.
Para fazer escolhas decisivas, lutamos constantemente porque, sim, custa-nos. O fruto, sem dúvidas, é a consciência da contrariedade, que mais do que nunca assume um papel de benevolência sem fim. Bendita contrariedade que nos volta o olhar para nós mesmos agora de modo plenificado e assertivo!
Para tanto, faz parte da luta admitirmos o nosso desejo honesto e sincero de vivermos unidos ao Eterno, abandonando as culturas egocêntricas. Precisamos manter o nosso coração disposto e aquecido para continuar no embate, e além disso, olhares atentos aos desformes sociais que tentam nos roubar.
Portanto, saiamos com a certeza de que firmeza e decisão sintonizam a essência de um coração feliz e livre na autenticidade! Jamais será possível um coração indiviso lançar-se inteiramente no Amor-Deus. Bendita contrariedade que nos encaminha à Vida.
Por Tatiane Medeiros
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