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Foto do escritorProjeto Madre Teresa

É tempo de deixar as folhas secas caírem



Podar os galhos que estão velhos para deixar que os novos sejam vistos e floresçam é um grande sinônimo de desapego. Deixar para trás o que não mais serve é uma porta aberta à descoberta do novo que virá. Dois episódios interessantes ocorreram no decorrer desta última semana que, sob um olhar comum, passariam despercebido demais. Compartilhando-os, penso que desenvolveríamos uma reflexão sobre alguns aspectos da vida ordinária que, por vezes, acabam passando em vão.


Por exemplo, qualquer cabelo, a fim de que cresça saudável e com estabilidade, necessita de eventuais cortes. Nos últimos dias, meu cabelo teve de ser submetido também. Não queria desapegar pelo medo de o comprimento diminuir. Apegada à forma como estava, não queria cortá-lo de maneira alguma, pois estava empenhada em fazê-lo crescer. Entretanto, tinha de cortá-lo, pois, caso contrário, não cresceria e permaneceria feio esteticamente.


Por fim, ainda na mesma semana, troquei o guarda-roupa do quarto por um novo e não queria me desfazer das peças que estavam guardadas, mas não mais serviam.


Com os dois exemplos, podemos considerar alguns fatos interessantes:


Em determinados momentos da nossa vida, nos deparamos com uma certa estabilidade cotidiana. Tudo, a olhos humanos e corriqueiros, parece bem. O emprego está controlado, as amizades são frutíferas, a casa está devidamente arrumada, a caridade e o desejo de vida espiritual também estão em ordem. Os estudos permanecem firmes, o salário ajuda a manter as despesas da casa e realiza os desejos do homem, os sonhos, ainda que sonhados e idealizáveis, estão nos nossos planos de realização. Nossa vida parece estável o suficiente para dizermos às claras que estamos bem, e que se estivéssemos vivendo um outro momento, não seria tão bom quanto. Mas, em boa parte das vezes, vivemos uma confusão interior. A casa mais preciosa – o coração – não está preparada o suficiente para receber a Visita.


De repente, sem que imaginemos, um movimento acontece em nosso interior. Uma mudança, alguma perda, alguma lembrança remota, alguma dor ou situação difícil que enfrentamos, vem à tona. Com elas, percebemos que a grande estabilidade que devemos buscar contradiz a lógica humana.


Nos damos conta, então, que a busca pelo controle das situações de nossas vidas, o desejo de controlar tudo o que está ao nosso redor, na verdade, arranca de nós a sinceridade de coração. Para o cristão, não existe espaço para o controle da própria vida. O cristão autêntico reconhece que a sua vida já não mais lhe pertence, senão Àquele que tudo realizou, o grande tesouro encontrado. Afinal de contas, viver tentando controlar o que está ao nosso redor é mesmo uma grande miséria. Passamos a assumir o lugar que, por natureza, deve ser de Deus. Nos sentimos Deus, mas nos frustramos: nós não conseguimos nos salvar sozinhos. Não somos Deus! Não temos o poder da criação, conferido ao grande Tudo de todas as coisas. Somos apenas Suas criaturas...


Naturalmente, ao passarmos por um período fértil, demoramos a entender que quem poda o terreno não somos nós. Por exemplo, qual agricultor, dono de terras, decide arriscar perder o plantio das sementes frutuosas em período de safra para deixar que novas sementes floresçam e rendam mais? É por esse motivo que concluímos que as terras do coração não são terras quaisquer... são terras preciosas, onde, precisamente nelas, o Agricultor por excelência precisa fazer semear o novo. A nós, cabe o desejo de ver nascer novas sementes ou viver esperando o dia em que antigas continuarão dando frutos.


Agora, lembro dos exemplos que citei no início do post. Naquele dia, desmontar o guarda-roupa não foi uma tarefa fácil. Não me refiro somente aos esforços físicos, mas ao desgaste de saber que, além deles, teria de lidar com o trabalho de separar peças que já não serviam mais. Viver centralizado naquilo que já é rotineiro e que satisfaz os nossos comodismos é mesmo muito prazeroso, pois faz-nos lembrar que as nossas próprias paixões nos bastam. Mas não...


Tantas são as vezes que não mantemos o nosso olhar centralizado no Mestre. Não é por sorte que O encontramos, nem tampouco coincidência, acaso do destino... Encontramos uma Pessoa, e não um fato, uma teoria ou uma denominação verbal. Encontramos uma Pessoa! Esta é a realização plena do homem!


É tempo de olharmos com mais sinceridade para o Senhor. Olharmos fixamente e despojarmos aos Seus pés as verdades do nosso coração. Não significa dizer que Ele deve conformar-se a nós, mas significa que devemos suplicar ao Mestre que realize em nós as transformações que nos façam mais parecidos com Ele e mais apaixonados também.


É tempo de olharmos com mais sinceridade, repito. Se não tivermos coragem de olhar para o nosso interior para descobrir o que é velho e precisa ser mudado, como seremos capazes de admitir que nos deixamos transformar pelo Senhor? Como seremos capazes de deixar que Ele realize em nós uma obra nova, um tempo novo, um novo plantio? Como seremos capazes de admitir ao Senhor que queremos ser configurados a Ele?


Dentro de nós, imaginemos que exista um precioso celeiro. Como bem sabemos, um celeiro tem a função de armazenar bens. Portanto, se não cuidamos dos bens interiores, corremos o risco de encontrarmos beleza no exterior e deixar que o espaço seja consumido somente por aquilo que é passageiro. Mas o amor de verdade não é bem assim. O Amor é eterno. O Eterno gera o novo em nós, pois é sempre a grande novidade e preciosidade do homem.

Para tanto, é preciso que vivamos atentos ao que guardamos de mais precioso em nós: o nosso coração. Como devemos preparar o plantio para o cultivo sadio? Deixando-o nas mãos do bom Agricultor. Uma árvore, para que dê frutos, precisa ser podada, regada e bem cuidada.


Corremos alguns riscos que precisam da atenção devida. Se nós vivemos esperando viver, esperando ou idealizando o dia que viveremos da forma como imaginamos, dentro dos nossos conformes e desejos, corremos um grande risco de não acolher o hoje de Deus em nossas vidas. Portanto, é preciso recomeçar. Dar espaço ao que é novo e deixar que o antigo se vá. Deixar que o que é velho caia para que o novo amanheça no dia que virá. Há de nos fazer sofrer? Sim! Muito provavelmente, sim. Mas, de que valeria não acordarmos olhando para o horizonte que se inicia como um novo socorro de Deus para nós? De que vale viver, se não desejarmos que cada respirar seja Dele?


O horizonte para nós é esperança, e ela, por sua vez, é um outro nome do estandarte do amor de Deus por nós. A esperança cega, como diria Teresinha, alimenta a árvore e a faz olhar para o futuro como projeção, pois está dirigido aos pés do Amado. Portanto, não esqueçamos: nascemos como um grão de trigo, que cai para frutificar. O que seria o fruto? Morrer para deixar que Ele nos gere.


A terra do coração, lugar de nossas emoções, sentimentos, traumas, alegrias, dores e conhecimentos, seja para sempre sagrada. Que Ele seja a preferência de entrada! Não esperemos o dia que estaremos prontos para deixar que as folhas velhas e secas caiam. Isso diz respeito à fé. Coragem! Medos, incertezas, apegos, comodismos, inseguranças... sim. Mas, coragem! Se feita por amor e no Amor, a oblação de si tem tanto mais sentido que nem os maiores parágrafos ou melhores textos conseguiriam captar a dimensão da preciosidade.


Ainda bebemos da apaixonante voz de Deus que se manifestou a nós na liturgia de hoje. Eis que: “O Reino dos céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo. O Reino dos céus também é como um comprador que procura pérolas preciosas”. Contemplemos a beleza do Criador. Com o coração ardente de amor, digamos ao Senhor: “Tu sabes, eu não quero te trair. Tu sabes, eu quero te amar. Mostra-me, dia após dia, o tesouro escondido e as pérolas da tua paz, que é para sempre minha plenitude. Vence em mim!” Abandonemos os nossos sonhos para sonhar os sonhos de Deus...


Folhas secas não servem, senão para serem jogadas e varridas ao vento. Não deixemos que a nossa consciência seja menor que o vento que passa aos nossos olhos. Busquemos, com todo fervor e desejo, que as flores nasçam e tragam nova Vida ao nosso jardim. Sobretudo, que o jardim seja Dele!


Por Tatiane Medeiros

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